Devaneios e observações de uma mente em viagem


  
- Que roupas eu coloco na mala para
essa viagem? Perguntou Lúcia, minha esposa. 
- Acho que só uma muda completa porque não vou me hospedar. 
Será uma viagem rápida em que passarei duas noites entre vans, táxis, ônibus e aviões. 
Continuei na sala assistindo televisão com o meu amigo Leite. Logo em seguida fui me aprontar para a viagem. 
Quando saí do banho a Lúcia estava terminando de selecionar as coisas que iriam na mala, auxiliada pela filha Ingrid Aline que ordenava cuidadosamente a toalha dentro da mala. 
- Coloquei também uma toalha e mais uma camisa, observou a Lúcia e pediu: 
- Troque de camisa ao chegar em Belo Horizonte. 
  
   
"Vou de van, eu vou de ônibus?" Vou com o primeiro que chegar! 
Inicio da viagem: 14:10 horas. Estou saindo de Dom Pedro - MA. 
   
  
- Pedreiras, Pedreiras... Codó, quem vai para Codó? Bacabal, Independência, Timbiras... Este é o burburinho característico da rodoviária de Peritoró. Ao descer da van me limito a dizer a um rapaz que estava gritando os nomes das cidades para onde tem transporte disponível: 
- É para Teresina que vou. Prontamente ele se vira para outro rapaz e informa: 
- Este grandão está ido para Teresina. Atravesso toda a região de embarque e me sento em um banco. 
"Que estranho. Em uma rodoviária tão movimentada não ter nenhum ônibus estacionado.” 
- Um homem para bem na minha frente e pergunta: 
- O senhor pagou a passagem da van para o outro? Era o motorista da van que me levou para Peritoró. Lá estava eu traído pelas peças que meu cérebro normalmente me prega. Eu me esqueci de pagar a van. 
- São R$ 15,00, disse ele. Paguei com vontade de entrar em um buraco, pela vergonha que passei. 
Chega um ônibus com itinerário de Imperatriz - MA a Natal - RN. Cheguei até a porta, comprei a passagem e embarquei. 
"Não seria de praxe que o agente de viagens solicitasse o meu documento? Mas..., em qual compartimento da mala a Lúcia colocou o documento?” 
Esqueci meus documentos em casa. Outra peça do meu cérebro.  
Uma das facilidades que temos no interior do Nordeste é a simplicidade na solução dos problemas que normalmente ficariam emperrados na burocracia e formalidade das cidades grandes. 
Liguei novamente para casa e sugeri:  
- Peça para a Ingrid Aline levar o documento até a rodoviária de Dom Pedro e entregar na mão do motorista da próxima van que passar pela rodoviária. 
Problema resolvido. 
  
   
22:00 horas desço do ônibus estou, entrando dentro de um forno de onde acabou de sair uma fornada de pão assado. Esta é a primeira impressão que se tem de Teresina - PI. 
Na frente da rodoviária estão dois táxis desembarcando passageiros. Como tinha outras pessoas na frente que rapidamente embarcaram, comecei a procurar outros carros que estivessem chegando. 
Do outro da rua após uma estreita calçada estavam vários táxis estacionados. Ao lado do primeiro deles estava um homem preguiçosamente esparramado em uma cadeira de macarrão. Fui em direção a ele que prontamente se levantou e me perguntou:  
- Precisa de táxi? 
- Sim. Até o aeroporto.  
O horário que eu tinha programado para chegar a Teresina - PI era 18:00. Não é recomendável viajar de noite nas estradas da região, por conta do índice de assaltos contra ônibus e vans. 
Esse atraso frustrou a ideia de ter uma noite em um bom restaurante aproveitando um bom carneiro assado. Comi alguma coisa no aeroporto mesmo. 
   
  
Após 3:20 hs de voo chego a Campinas ainda antes de amanhecer. 
Clima chuvoso. A quanto tempo não vejo isso! 
Na saída do avião não encontrei túnel acoplado à porta. Tinha, sim, uma escada com cobertura. Essa cobertura não tem nexo nenhum, pois, depois dela os passageiros vão para área desprotegida.  
Curiosamente, o ônibus do translado têm um ronco mais fino que os ônibus de outros lugares. Também senti uma pequena coceira, como se estivesse com oxiúros. 
“Será que a fama de Campinas é verdade?” 
    
Cheguei a Belo Horizonte - MG às 8:20 do dia seguinte. Engano meu. Não é Belo Horizonte. É Confins MG. Bem longe de BH. 
- São R$ 105,00, respondeu a atendente do guichê da cooperativa de táxi. 
Quando apresentei o dinheiro para pagar ela me interrompeu dizendo: 
-Aqui não aceitamos dinheiro. Só cartão. Pague direto ao motorista do taxi. 
Passando em frente a um quiosque de informações turísticas, (pessoas que gostam de trabalhar com atendimento, o fazem com mais qualidade, naturalmente) a competente atendente me ajudou assim: 
- Tem um ônibus executivo que sai a cada quinze minutos daqui bem em frente. Olhe lá aquele guichê vermelho. A passagem é só R$ 21,00. E é até mais confortável que o taxi. 
Já me esqueci da coceira. O problema foi só com Campinas mesmo.  
Minas Gerais, que lugar maravilhoso. Desde que eu estava no avião via pela janela o incrível relevo . Um misto de montanhas e vales. Nada de terreno plano. 
Logo na entrada de Belo Horizonte de dentro do ônibus pude ver a Cidade Administrativa, projetada por Oscar Niemeyer. 
Em seguida vi uma placa curiosa: Uma seta para frente indicando “Belo Horizonte”. Se BH fica à frente em que município fica a Cidade Administrativa? Depois percebi que a indicação é apenas da zona urbana da capital Mineira. 
    
Terminou o dia, mas pão de queijo, que é uma das identidade da terra, comi só um mini no coquetel do evento motivo da viajem. 
Estou extremamente cansado e sem coragem para voltar ao terminal de ônibus para tomar um executivo.Vou encarar um táxi, mesmo sendo caro. 
- Qual valor o senhor me cobra para me levar ao aeroporto de Confins? 
- A essa hora da noite fica de R$ 100,00 a 120,00. 
- Então eu pago R$ 100,00 
- Vamos ficar entre os dois valores. R$ 110,00 
Mal entrei no táxi e já dormi. O dia tinha sido muito produtivo. Várias reuniões de trabalho e convenção que quase nenhum tempo tive para turismo. Tinha feito apenas um passeio de carro pela cidade, oferecido pelo anfitrião do evento com parada apenas na Praça do Papa, que tem uma visão privilegiada da cidade. Claro que fica a frente de uma enorme montanha com um paredão monstruoso. 
    
Acho que não vou fazer a escala do avião de São Luís para Teresina. Vou direto para casa de ônibus daqui de São Luís. 
Fiquei desde as 02:30 horas até amanhecer no aeroporto de São Luís. Por sorte não ouvi nenhum tiro, apesar de todo caos que está na capital Maranhense, por causa do presídio de Pedrinhas. 
- Por quanto o senhor me leva até a rodoviária? Perguntei ao taxista. 
- R$ 20,00 
- Tudo isso? A rodoviária é tão perto! 
- Esse valor foi determinado pela Infraero junto com o Sindicato. "ham?" 
Na rodoviária tinha apenas dois ônibus nas plataformas. Um para Centro do Guilherme e o outro para Sucupira do Riachão. 
Sentei na cadeira de espera ainda com vontade de dormir. 
Depois de uns cinco minutos cochilando, acordei sobressaltado. Sucupira do Riachão é no rumo de Dom Pedro!  
O ônibus ainda estava parado e consegui comprar a passagem para chegar em casa a tempo do almoço. 

Comentários

  1. Que disposição meu caro! Muito bom o seu texto. Um abraço do "povo das montanhas".

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